sábado, março 31, 2007

Conhecer através da imagem

O conhecimento começa com a duplicação mimética do real apercebido e desenvolve-se através de uma hierarquia de representações icónicas, indo as imagens desde um nível de base até aos modelos mentais, cada vez mais abstractos mas igualmente icónicos. Podemos entender o conhecimento como uma vasta rede de modelos esquemáticos, mais ou menos relacionados, mais ou menos específicos. E todas as imagens ou modelos destacam determinados aspectos dos fenómenos em relação a outros.
O problema é determinar a articulação entre os signos externos (a linguagem verbal e as imagens materiais) e as imagens e modelos mentais que podemos considerar como representações ou signos externos. Estes são entendidos como “tecnologias da inteligência” e a sua utilização flexibiliza as formas e as operações do pensamento. O pensamento cognitivo está assim dependente da mediação semiótica, sendo os signos um produtos das interacções sociais dos indivíduos. Diz Jean-Pierre Meunier:
“Il n’y a pas deux modes indépendants de représentation du monde, l’analogique et le digital (ou la représentation propositionnelle et l’image); il n’y en a qu’un seul, l’iconique, mais dont le couplage avec un système extérieur de signifiants démultiplie les possibilités de différenciation, d’abstraction… »
O facto da imagem externa resultar da imagem interna explica a variedade das suas manifestações e a diversidade de categorias das imagens. As imagens simples resultam das imagens mentais em sentido restrito; mesmo as imagens fotográficas passam por uma mentalização do apercebido que resulta de um ajustamento focal tendo em conta o ponto de vista, a selecção e o destaque de certos aspectos. As imagens mais esquemáticas como os diagramas, redes, cartas geográficas são projecções no espaço exterior dos nossos modelos mentais. Eles representam a nossa aptidão para extrair o esquema das coisas, as relações entre os vários elementos de forma a realizar simulações mentais do real a diferentes níveis de abstracção.
Segundo Langacker (1987) parece não haver fronteiras rígidas entre a percepção e a interpretação, nem entre percepção e mundo real, porque o mundo à nossa volta existe conforme o percebemos. O sentido de uma imagem não está ligado a um só cenário pois a habilidade dos ser humano de construir e modelar é muito complexa.Lakoff e Johnson consideraram as metáforas linguísticas como uma forma de conceptualização; da mesma forma as imagens externas devem ser consideradas como reveladoras de uma actividade cognitiva que deve ser objecto de um estudo aprofundado. Trata-se de compreender como o olhar, através de uma série de comparações entre diferentes elementos opera diferenciações e assimilações até à aquisição das formas globais de uma imagem fixa; no nível seguinte compreender como as formas traduzem significações através de uma série de novas comparações com a experiência colectiva individual (memorizadas de forma mais ou memos esquemática); num nível superior compreender como se combinam diferentes imagens através de novas comparações imagem a imagem, que induzem novas assimilações e diferenciações, conduzindo à criação de unidades mais importantes, englobando as anteriores e encadeando-as na hierarquia de significados. Os modelos não são assim decalques de um mundo objectivo mas de construções que implicam um alinhamento em que intervêm aspectos sócio-culturais conceptualmente esquematizados.

sexta-feira, março 30, 2007

Esquemas Conceptuais

Segundo Rumelhart e Ortony (1977) os esquemas são estruturas de dados que representam conceitos gerais armazenados na memória, como objectos, situações, acontecimentos, sequências de acontecimentos, acções e consequências de acções. Os esquemas são estruturas do conhecimento em interacção e são constituídos por sub-esquemas que correspondem aos elementos constitutivos do conceito a ser representado. A sua função central consiste na construção de uma interpretação de um acontecimento, objecto ou situação. O conjunto dos esquemas de um indivíduo corresponde à sua teoria particular da realidade e ao seu conhecimento; ao serem activados podem os esquemas gerar modelos que são representações incompletas, percepções do mundo, permitindo-lhe explicar e prever alguns fenómenos. Assim tem sido cada vez mais consideradas na aprendizagem as concepções prévias dos indivíduos, que podem facilitar ou dificultar a aquisição e compreensão de novos assuntos. Alguns autores defendem que não se deve simplificar o ambiente de aprendizagem, mas deve manter-se a complexidade dos temas tratados, de modo a que os alunos percebam as suas múltiplas perspectivas. São sugeridos assim ambientes colaborativos de aprendizagem, para que os alunos possam partilhar posições ou perspectivas diferentes, não tendo como objectivo chegar a um consenso, mas desenvolver, comparar e compreender as diversas perspectivas sobre um assunto. O professor assume um papel de facilitador da aprendizagem, promovendo a negociação social do saber nestas comunidades de aprendizagem. Assim os indivíduos são livres de construir a sua interpretação do mundo, desde que coerente com a visão da comunidade e à luz das suas experiências, tendo assim um papel activo na construção do seu próprio saber.

quinta-feira, março 29, 2007

Semiótica Cognitiva


Segundo Jean-Pierre Meunier, a semiótica cognitiva explora a complexidade das relações entre as representações mentais e as operações de inferência efectuadas sobre essas representações; os sistemas semióticos e as tecnologias que lhe servem de suporte; os diferentes tipos de mediação social. Estudos recentes no âmbito da comunicação desenvolveram considerações importantes relativamente ao implícito presente em todas as mensagens e à interpretação daquilo que ela implica, abrindo uma ampla perspectiva sobre os fenómenos cognitivos.
Lakoff e Johnson demonstraram que as metáforas estão presentes na vida do homem e que é possível identificá-las na linguagem mas também em todas as formas de comunicação humana. As metáforas estão presentes na linguagem do quotidiano, constituindo um recurso importante para a vivência de factos e construindo a nossa concepção do mundo. O nosso sistema conceptual é metafórico por natureza e as metáforas fazem parte do quotidiano, não somente na linguagem mas no pensamento e na acção. Lakoff publicou em 2004 um artigo intitulado “Metáforas do terror”, onde defende que as imagens sobre os atentados de 11 de Setembro mudaram os cérebros dos norte-americanos e foram capazes de alterar a forma como muitos viam Nova Iorque e a sociedade americana.
“Edifícios teriam sido apresentados como pessoas com olhos, narizes e bocas, representados por janelas. Os aviões que atravessaram as torres foram compreendidos como balas que passam por uma cabeça. A queda duma torre seria um corpo caindo e a imagem posterior seria o inferno: cinza, fumo, o esqueleto de um edifício, escuridão e sofrimento. A queda das torres teria representado o abalo da estrutura da sociedade americana…”
A linguística cognitiva propõe um novo paradigma no estudo da linguagem; esta deixa de ser entendida como uma faculdade humana autónoma, mas antes como uma capacidade em interacção com a cognição e a conceptualização. As metáforas deixam de ser meras questões linguísticas e passam a ser encaradas como questões relacionadas com o pensamento. Entre algumas áreas de interesse nestes estudos salientam-se a capacidade cognitiva de categorização dos diversos elementos linguísticos em função do seu maior ou menor grau de representatividade; os mecanismos cognitivos de conceptualização e expressão da realidade (modelos cognitivos e culturais; metáforas e esquemas de imagens). Lakoff e Johnson formularam uma teoria da metáfora conceptual, segundo a qual a forma com falamos da vida é o reflexo da forma como a pensamos, como conceptualizamos esta realidade; deste modo a metáfora adquire um valor conceptual de projecção do domínio da experiência física para o domínio das entidades abstractas. Mais do que uma estratégia de palavras, a metáfora é uma estratégia conceptual, que funciona como primeira aproximação ao nível do pensamento humano; é uma forma de pensar o mundo em que os conceitos abstractos se tornam mais acessíveis à compreensão humana. Esta ideia de que a metáfora é um procedimento típico da linguagem do quotidiano inaugurou uma nova visão da língua, relacionando-a com aspectos de natureza social, cognitiva, psicológica e cultural.Os processos cognitivos têm vindo a ser considerados como factores centrais no processo de aquisição e uso da língua materna. Cada língua oferece uma visão subjectiva e colectiva da realidade; aprender uma língua estrangeira é assim adquirir uma nova visão, olhar para a realidade de uma perspectiva diferente. O nosso sistema conceptual tem uma estrutura metafórica, à qual recorremos ao usar a língua. De referir que para alguns autores aprender uma língua estrangeira não é começar de novo, mas antes acrescentar algo à competência linguística já existente. E aprender uma coisa nova através da associação a algo conhecido oferece mais garantia de sucesso na aprendizagem do que a apresentação isolada de novos conhecimentos.

sábado, março 03, 2007

Olhar a escola através da Semiótica Social

Segundo a teoria da Semiótica Social de Kress e van Leeuwen (1996) os textos são construções multimodais, em que a escrita é apenas um dos modos de representação da mensagem; estes são culturalmente determinados e constantemente redefinidos dentro dos vários grupos sócio-culturais. Há toda uma multimodalidade de formas de representação que deve ser considerada nos processos semióticos. O mundo é algo que não pode ser apenas descrito em palavras e mesmo antes de sabermos ler e escrever somos capazes de descrever o “nosso mundo” e interagimos com ele. As nossas representações desse mundo são feitas através de imagens, cores, formas, gestos, sabores, cheiros, tacto. Por outro lado o papel, os tecidos, as pessoas, os meios de comunicação electrónicos, também são portadores de mensagens e permitem às crianças uma leitura e representação do mundo anterior à escolarização. A escola tende a substituir as formas de representação da infância, que são complexas mas plenas de significado, pelo código escrito, como se elas não fossem importantes no processo de construção do conhecimento dos alunos; os hábitos orais e gestuais começam a ser corrigidos e substituídos pela norma da escola e da sociedade em que esta se encontra inserida. Também muitas vezes é subestimada a multimodalidade das representações textuais como o tipo de papel, as ilustrações a cores, a moldura das páginas, o formato das letras e outras formas portadoras de significado.

Gramática da Mensagem Visual



Para Kress e van Leeuwen (1996) assim como as crianças aprendem a ler e a produzir textos verbais, utilizando uma gramática, também é possível aprender a ler os elementos não-verbais de uma mensagem, propondo então uma gramática da mensagem visual, um instrumento útil tanto na construção como na análise de textos em que os significados estão relacionados com elementos visuais que devem ser alvo de interpretação. Os estudos destes dois autores ingleses situam-se no âmbito da semiótica social, uma vez que todos os processos de significação estudados consideram o emissor e receptor com uma envolvência sócio-cultural que é decisiva nas leituras realizadas sobre as diversas mensagens visuais.
Foram identificados três tipos de relações de significação que se podem estabelecer entre os participantes interactivos (emissor e receptor) e os participantes representados numa mensagem visual (actores) - representação, interacção e composição:
a) Na representação visual com uma estrutura narrativa é induzida acção ou movimento através de algo que aponta numa determinada direcção (pode ser uma seta, um braço ou apenas o olhar do actor numa determinada direcção para algo ou até para fora da imagem); a estrutura conceptual refere-se a processos de classificação da realidade como organogramas de empresas ou mapas de fluxos (mapas temáticos), a processos analíticos que surgem quando um determinado actor transporta um determinado número de atributos que devem ser apercebidos pelo receptor como os correctos ou ideais numa determinada situação (moda), ou a processos simbólicos, que estão associados ao valor duma imagem (campanha de vacinação).
b) Quanto à interacção observada entre os participantes interactivos e os participantes representados são considerados por Kress e van Leeuwen quatro aspectos em que o processo comunicativo pode ter diferentes leituras:
- o contacto entre os participantes representados e o leitor: quando um personagem olha olhos nos olhos do leitor temos um pedido ou interpelação; quando o olhar não termina no leitor mas este deseja estar na posição do personagem temos uma oferta
- a distância social, determinada pelo corte utilizado na imagem: se o plano for aberto a distância social que se estabelece entre os participantes é máxima, diminuindo até um plano muito fechado onde a distância social é mínima e o personagem como que aconselha o leitor a tomar uma determinada decisão;
- a atitude está relacionada com a perspectiva da imagem, que nos permite maior envolvimento com os actores e maior subjectividade no caso da perspectiva frontal; maior distanciamento e menor importância dos actores na perspectiva oblíqua, podendo haver no entanto maior objectividade quando o leitor pode observar a imagem segundo diversos pontos de vista.
- a modalidade, que codifica o nível de realidade que uma imagem representa, tendo em conta os aspectos de saturação, diferenciação e modulação das cores; contextualização, representação, profundidade, iluminação e brilho.
c) Um último significante da mensagem comunicativa segundo Kress e van Leeuwen diz respeito à organização dos participantes representados na imagem e denomina-se por composição. A localização dos actores à esquerda da imagem traduz destaque e novidade; colocados na parte inferior são vistos como próximos do receptor e colocados na parte superior são interpretados com o sonho que se pretende alcançar. O tamanho relativos dos objectos e a existências de linhas podem sugerir ligação ou rupturas entre diferentes realidades.

A Semiótica de Roland Barthes


Roland Barthes (1915-1980) usou a análise semiótica na interpretação de imagens de revistas e anúncios publicitários, dividindo o processo significação em dois momentos: denotativo, relacionado com a percepção simples e superficial; conotativo, constituído por um sistema de códigos de natureza simbólica e cultural, que permitem a cada leitor atingir vários signos, havendo em cada imagem uma sobreposição de mensagens.
“Estas significações conotativas de algumas imagens poderão ser tão fortes que se sobreporão à significação literal, inflectindo e apagando qualquer valor informativo da mensagem. Por via desse processo, a imagem adquire valor argumentativo ou mesmo persuasivo (caso típico da mensagem publicitária).” Alda Pereira, Gramática da Mensagem Visual
Barthes rejeita os princípios normativos dos sistemas conceptuais tradicionais e elege a subjectividade como razão determinante, fundindo a experiência intelectual com a experiência sentimental. O seu pensamento é marcado pela instabilidade e pela contradição; por um lado ganhou notoriedade como um dos fundadores da semiologia devido ao seu esforço sistemático de teorização, mas por outro, o carácter plástico do seu pensamento e a utilização frequente do subjectivismo trouxeram-lhe algumas críticas. Na análise semiótica da fotografia, Barthes analisa o nível das sensações que esta provoca face à experiência individual de cada espectador, procurando através da subjectividade e da perspicácia captar todos os signos representados.
“Saliente-se que não é o signo visual, em si, tomado como um todo, que tem um significado conotativo. O intérprete é que lhe atribui uma (ou várias) significações segundas, ou seja, que atribui uma conotação à mensagem. A mensagem visual, em si, será de facto um sistema de signos, com base na composição solidária de diversos signos: uns de ordem icónica, outros de ordem indexical a que se acrescenta, numa leitura posterior, signos de ordem simbólica.” Alda Pereira, Gramática da Mensagem Visual

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Signos Plásticos específicos e não-específicos

Os signos plásticos específicos da representação visual têm um carácter convencional e pertencem a uma realidade criada pelo autor da imagem.
O quadro circunscreve a imagem, separando o mundo da representação (o interior do quadro) do mundo real (o que está fora do quadro). A forma mais frequente de quadro é a rectangular: a fotografia, a página de uma revista, uma pintura, o ecrã de cinema, televisão ou computador. A imprensa e a publicidade muitas vezes tentam ocultar o carácter representativo da imagem, apelando para a emoção de forma a amplificar o campo representado até um espaço mais vasto; tem-se a impressão de que se a imagem fosse maior se veria mais, transformando-se o quadro numa janela que amplifica o nosso campo de visão.
O enquadramento corresponde ao tamanho da imagem, resultado da distância entre o sujeito fotografado e a objectiva. Corresponde ao que em fotografia se designa por escala de planos, desde o plano geral até ao primeiro plano.
A perspectiva da imagem está relacionada com o modo de percepção da realidade por uma determinada cultura. A representação actual fixa o ponto de vista segundo as proporções do corpo humano, considerando que o mais pequeno é o mais distante e o maior o mais próximo. Não existe obrigação de utilizar sempre uma representação em perspectiva. A representação visual pode não ter perspectiva ou ter apenas dois planos, explorando-se então os contrastes entre o difuso e o nítido.
Os signos plásticos não-específicos correspondem a toda a percepção visual que existe dentro duma imagem e permitem a sua conotação com uma mensagem, relacionando-se directamente com experiência perceptiva.
A cor, representada pelas diversas cores do espectro da luz e suas tonalidades, está muito relacionada com o enquadramento histórico-espacial dos indivíduos, pois a percepção da cor é cultural. Por exemplo, o vermelho tem sido associado ao calor, a uma vida ardente e agitada, uma enorme potência ou uma proibição; o azul atrai o homem para o infinito, simboliza o desejo de profundidade e calma - quando escurece aparenta alguma tristeza, mas quando aclara parece longínquo e indiferente como o céu; o verde representa a natureza; o branco a pureza; o negro a elegância, beleza e brilho ou pode ser encarado como algo sombrio, sinal de morte, negativismo.
Quanto à iluminação podemos distinguir entre a iluminação directa e a difusa. Na iluminação directa de uma imagem, uma fonte luminosa hierarquiza a visão guiando-a primeiro para as zonas iluminadas e depois progressivamente para as zonas de sombra e constitui um indicador de leitura; por outro lado uma iluminação difusa permite maior liberdade na análise da imagem e do jogo de cores, implicando cores mais suaves e materiais mais uniformes.
A textura é uma propriedade de superfície como a cor. Existem texturas mais visuais que apelam mais ao táctil do que outras, como por exemplo a oposição entre liso e rugoso, entre pintado e aguado com as suas implicações estéticas.
As linhas e formas também têm o seu significado e assim as curvas estão relacionadas com a sensualidade feminina, as rectas com a virilidade; as formas fechadas ou abertas estão relacionadas com o recolhimento, conforto ou evasão, as quebradas com agressividade, as triangulares ou piramidais relacionadas com o equilíbrio.
A espacialidade das imagens é apreendida segundo três eixos semióticos: o eixo semiótico da verticalidade, com as noções de alto e baixo; o eixo da lateralidade, com a esquerda e a direita; o eixo da frontalidade e do movimento adiante e atrás.

sábado, fevereiro 17, 2007

O Modelo do Grupo µ

Pierce observou o signo segundo uma perspectiva tridimensional. Para ele o signo compõe-se pelo interpretante, representante e objecto; seguindo esta perspectiva tridimensional, cada signo pode ser classificado como imagem, diagrama ou metáfora; por sua vez cada ícone pode ser subclassificado em imagem, diagrama ou metáfora. O ícone segundo Peirce é um signo que mantém com o seu referente uma relação de analogia, semelhança que pode ser visual, auditiva, ou resultante de outra qualidade sensitiva como o paladar ou o olfacto.
“Grosso modo, podemos dividir os hipoícones segundo o modo de primeiridade no qual participam. Os que fazem parte de qualidade simples ou qualidades primeiras, são imagens; os que representam relações, principalmente diádicas, ou consideradas como tais, das partes de uma coisa por relações análogas nas partes que os constituem são os diagramas; os que representam o carácter representativo de um reprersentamen, representando um paralelismo com qualquer coisa de outro, são metáforas” (Peirce, 1978:149).

O Grupo µ relativizou a distância entre o signo icónico e o objecto; a percepção de um objecto produz uma imagem mental, que através de um processo de transformação assumirá uma forma icónica, com linhas, cores e formas. A percepção de um ícone permite pois um processo de reconhecimento e uma associação a uma imagem mental do interpretante, havendo depois uma estabilização ou actualização do referente segundo um processo cognitivo. O conceito de semelhança deu assim lugar ao conceito de reconhecimento. Segundo o Grupo µ, as imagens na realidade têm um signo duplo: uma função de representação, onde entra a percepção tridimensional do objecto (signo icónico) e uma organização de cores e de formas que representam propriedades abstractas (signo plástico).

terça-feira, janeiro 30, 2007

Os signos de Pierce


Charles Sanders Pierce (1839-1914) criou um método para determinação dos significados dos objectos em que a estrutura do raciocínio se baseia sempre entre relações triádicas e em que cada objecto é diferenciado dos outros pela concepção de como funciona ou do que pode realizar. Os três elementos lógicos que permitem a decifração dos fenómenos são a Primeiridade - qualidade sensitiva ou sensação percebida; a Segundidade - resposta para a observação em que damos um nome aos objectos e a Terceiridade - representação da relação entre dois elementos e que permite generalizar e até atingir a elaboração de leis.

O Signo é a noção mais simples da terceiridade e é aquilo que representa alguma coisa para alguém. O modo como cada signo é apreendido pelos indivíduos e a sua utilização num determinado contexto também pode ser apresentado em três categorias: o Quali-signo (mera qualidade); o Sin-signo (qualidade associada a um significado) e o Legi-signo (lei geral).

“…um signo é um legi-signo se a sua apreensão é regida por um mecanismo de lei geral. A linguagem verbal é um exemplo de sistema de legi-signos, mas também o são regularidades de comportamentos individuais ou sociais, convenções e costumes culturais, ou, ainda regularidades traduzidas por leis científicas.” Alda Pereira, Os elementos fundadores do signo visual

Para Pierce existem três categorias de signos: o Ícone é um signo que é uma imagem de semelhança do objecto; o Índice é um signo que é um indicador, uma consequência ou continuidade do objecto e o Símbolo é um signo que é uma abstracção do concreto independentemente das relações de semelhança com o objecto.

“Sendo o processo de semiosis o resultado da natureza triádica do signo, na base da atribuição de significados, isto é, da significação, está um processo de inferência. Um ícone significa com base num mecanismo de semelhança; um índice significa com base numa inferência feita a partir de uma conexão física e um símbolo significa com base num mecanismo de associação fundado numa convenção, ou lei conhecida.” Alda Pereira, Os elementos fundadores do signo visual